quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Sobre o que se passa em Washington

Quarta- feira, congresso Norte-Americano. Senado em sessao. Dois representantes de cada estado, 49 representantes republicanos, 49 democratas, um "livre", um democrata livre. No livretinho que explica como funciona o sistema uma ilustracao da camara com os nomes de cada senador e seu lugar no congresso, nomes como Obama e Clinton, com indicacoes dos seus estados. Uma meia duzia de adolescentes engravatados e com espinhas sentados no chao, ateh onde deu pra entender, eles sao responsaveis por levar agua e repor os papeis das mesinhas. Senadores presentes: 1.   
 
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Rua H, 3 quadras da Union Station. Meus amigos moram em um predio de 3 andares, no primeiro, um espaco vazio que serve como galeria; no segundo, 1 quarto, 1 banheiro, coz(inha); no terceiro, 1 quarto e o estudio ou, simplesmente, computadores com adesivos de "talk nerdy to me" e um sem fim de aparelhos eletronicos empilhados. 

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Eh claro que eu esperava ver o congresso cheio. Senadores vorazes, afoitos por expor sua opiniao, cheios de ideias para fazer deste planeta um lugar melhor. 

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A geladeira eh daquelas frigideres antigas, redondinhas, tipo "eh assim que serao as geladeiras do futuro" dos filmes da decada de 60. Branca. Igual a vemelha que a Bruna tem no quarto. Fica bem melhor no quarto da Bruna, como armario, do que disputando espaco com o armario das panelas e a dispensa que soh tem comida pra gatos em um canto da pequena cozinha, como geladeira. 

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"Faz sentido", pensei. Obama e Hilary nao estarem la, afinal, eles estao em campanha eleitoral e, discutivelmente, eh mais importante fazer campanha eleitoral do que manter a constancia diaria do trabalho no legislativo para tentar fazer algo. Sera o sonho de todo o legislativo eh ser executivo? Sera que o legislativo eh um executivo recalcado? 

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O que me deixou mais aflita em todo o senario cozinha foi ter tido mais dificildade em achar comida de gente do que comida de gato. Dentro, na geladeira, tudo empilhado, sanduiches meio-comidos enrrolados em papel aluminio e pacotes de vegetais velhos pela metade. Ja consegui achar uma coisa ou duas e cozinhei, mas eh dificil, me toma tempo e serenidade. Nunca falta comida, mas tambem nunca tem eh como se fosse sempre uma caca a comida, entende? Eu sei que eh mimado e mesquinho eu reclamar, ou mesmo descrever, nao eh meu e tem me sido oferecido de graca e com amor, mas, ainda assim, essas sao as impressoes que fico. 

Essa ausencia da possibilidade de comida tem mexido bastante comigo, esta me fazendo rever meus conceitos e, espero eu, amadurecer.

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De onde eu consigo ver eh um par de ombros de terno que sustenta uma cabeca careca no centro, rodeada por ralos cabelos brancos e maos que se movimentam frenetica e enfaticamente, marcando o ritmo de cada um dos "Mr. President", para o presidente do senado, enquanto este, disfarcadamente, manda mensagens pelo celular por debaixo da mesa. Um velinho que parece simpatico, senador pelo estado de Vermont, esta propondo uma reducao no impostos de nao sei o que la e no reeembolso de nao sei mais o que, que pelo que eu entendi e um reembolso dado pelo governo sobre os impostos pagos. O que acontece eh que quem paga mais impostos, sobre uma fortuna maior, acaba por receber um reembolso maior, o que acaba deixando a sua fortuna maior, e quem tem menos grana e paga menos imposto, ganha menos grana do governo e acaba ficando com ainda menos grana. "Isso foi feito durante a admistracao Regan, e teve efeito. Esta na hora de pararmos com palhativos e tomarmos medidas efetivas para reestabelercer a economia. Ano passado um ....... de trabalhadores da construcao civil perderam os seus empregos, e com esta medida teriamos nos cofres do governo em torno de 500 bilhoes a mais, e com 500 bilhoes a mais poderiamos devolver o emprego para uma boa parcela desta populacao e fariamos a economia girar. Temos que parar de governar para os Bill Gates e Warren Buffets. Eu considero esta uma proposta sensata e solida para reestabelecermos a economia deste pais". Fim da sessao, o senador  se retira, o presidente envia sua mensagem. 

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Quinta-feira. Frio, bem frio. Pennsylvania Av, eu acho, algum lugar entre o Capitolio e  o Obelisco grande. Fui na National Gallery of Art, tudo free, duas visitas guiadas, uma sobre o seculo 19 na Franca, do Roccoco ao pos-modernismo na pintura, otima guia. Outra sobre arte moderna, nao tao otima guia, obras maravilhosas, Picasso de todos os jeitos, as sopas do Andy. 
Voltando pra casa depois de passar no Museu Aeroespacial pra saber a hora da visita guiada, pedi dinheiro na rua pra comprar chocolate. 

Nao me incomoda a humilhacao de pedir, me incomoda a incapacidade e a ansiedade de nao conseguir ficar sem chocolate, me incomoda o desespero que pensar em ficar sem chocolate me gerou, mas me fez pensar, e muito, acho que me fez crescer.

A imagem figurada do chocolade mostra mais do que o vicio infantil, representa um pouco da crenca infatil e ingenua que eu, ainda e ainda que envergonhadamente, ostento.  

Incrivel como sempre fui ingenua e, de alguma maneira ainda mais incrivel, eu ainda sustentava minha ingenuidade sobre argumentos que, para mim, pareciam bastante racionais. Verdade eh que sempre me ideintifiquei mais com a nacao de Warrent Buffets do que com a nacao de pessoas que fica mais pobre ao pagar impostos, sempre romanciei a vida e achei que no final, no meio, no caminho, eu de uma forma ou de outra seria ou continuaria a ser parte dos um por cento da populacao mundial da qual nasci parte e me criei como. 

Mas hoje, desesperadade pela ausencia da possibilidade de chocolate, me dei conta do que a grande maioria dos meus amigos ja sabe: Nao, eu nao nasci Warren Buffet, Warren Buffet nao nasceu Warren Buffet e se eu, algum dia, me tornar um centesimo de Warren Buffet, sera por muito, muito trabalho arduo, muito mais disciplina do que eu jamais exercitei em toda a minha pequena e ingenua vida e muito auto-controle para conter meu desespero e enterder que eu nem sempre terei chocolate. 

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Quinta-feira. Rua H, frio, muito frio. Chego em casa encolhida e rabugenta, meu amigo me abre a porta com um sorriso, diz que eu "look hot", me conta que acabou de editar o video, me oferece um cigarro e chocolate.   

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

about the ends

So, i'm on the bus, right, the A bus, coming back from the Magic Kingdom. The very last time I ever ride the A bus coming back from the Magic kingdom. Just chilling, trying to feel the moment, listen to some classic music on my friends ipod. We are the last ones to leave the bus, everyone says goodbye to the driver, he is really warm and replies them all politely. 

Then we drop off, he says goodbye and have a good night, to what I say, ' Have a nice life, 'cos this is the very last time i ride this bus, this is my last day at work', 'Have a nice life too', he says. I leave  the bus and hear a sound of a metal falling on the ground, do not mind, i keep my way. He calls and ask 'Is this yours?'. It was a pin, my Mickey Mouse pin, 'Yes, its mine and I want it! Thank you', I say. When I'm about to turn my back once more he says ' I met him once'. I wondered for a while: who did he meet, Mickey Mouse? Who? I asked. Andy Warhol - he replied me. I have this Andy Warhol pin on my purse, it took me a while to realize he had seen it and was talking about it. 

 - No way, you met Andy Warhol?! How come? Where?
 - It was at this party once, I was there and he was there, he was kind of the weird guy in the corner, minding his own work. It was not a long conversation, kinda 'hello, how you doing?" type, but, yes, I met him. 
 - Thats good enough for me. - I say. - Whereabouts? 
 - New York. - he tells me.  - I met Iggy Pop too. He was at the party. 

And then he tells me how he used to be a musician and said ' you know, you're a musician and then you're hanging out with your friends, all musicians, and next thing you know you're in the back scene, you're at these parties and meeting these people. Even if your not playing, you're in the back scene, you know"...

I ask him what happened to the music and if driving busses were any more exiting than playing, and he says 'no, but I need it' and tells me how he has a sun that was born with epilepsy and that it was hard and he was a single parent, but now the guy is better and when he turns 18 he, the father, is going to Japan to teach English and will meet a beautiful Japanese and marry her, and we talk about the Flaming Lips and Yoshimi and how they had to go to Japan to get recognized here in the US. He goes on a bit more about how you can teach for five years there and that, once there, he will, eventually, learn Japanese. 'Just don't get lost in translation', I said...

He says, "If you ever get into the music business, don't... Don't ever leave it. There will be a lot of times things will get hard, there's a lot of bad stuff in that business, depressions that go on for years and you think to yourself  'I wont want to do that when I'm forty...' - he says - " But, yes, you do, you will want to do that at forty, and fifty and at ninety two...".  

And then we split and I fail twice very badly in my attempts to light my cigarette. End up having to go back to the little bus drivers' center to ask for a lighter and, since I'm already there, used the time to say 'thank you' to the guys inside, even if they never drove me I thank them for doing it and say that their work made my work possible. We start conversing once more, Woody, the guy that had once met Andy Warhol, and I. 

He tells me "Don't ever let your boyfriend give up on music, even if times get hard". I say I wont, say I'll always be there for him, to support, to stop him from giving up when things get complicated.  I say goodbye and farewell for them and the A bus, the one I'll never more catch, and he says "and hey, maybe we will see each again", and I say "yeah, and you will be playing, I'll be in a bar and you and my boyfriend will be there, playing, and you guys are going to play together". 

 - I still have my guitar - he says, and tell me the name of the guitar, which, of course, I don't remember - Just like Jimmy Page's one. - He tells me. 
 - Is it a Fender? - I ask. 
 - No, its a Gibson. But I have a Fender as well, it wouldn't be Rock'n'Roll without a Fender! 
 - No, it wouldn't - I reply. - Well, bye then and it was very nice to have met you!
 - It was indeed very nice, too bad we only had this conversation now, at the very end. 
 
And then I say:

 - Yeah, but thats what ends are for, right? To bring  new beginnings... 

* * *

And yeah, thats what ends are for, to bring new beginnings, right? 


domingo, 20 de janeiro de 2008